A LENDA DO PEIXE DOURADO
APRESENTAÇÃO
A história do Peixe de Ouro,
fazedor de milagres, é mais abrangente do que se pensa, e integra muitas
coletâneas de contos tradicionais, incluindo os Marchen dos Irmãos Grimm. No catálogo internacional do conto
popular, é classificado como ATU 555
– The Fisher and his Wife (O pescador
e sua mulher), com variantes e versões em inúmeros países. Adverte para os
riscos e consequências da ambição desmedida, sendo, ao mesmo tempo, um conto
maravilhoso e uma história exemplar. O peixe aparentemente indefeso do início
da história mostra-se um auxiliar mágico poderoso, mal disfarçando o exercício
de um poder de deidade, recompensando e punindo quando a ganância torna-se
sacrilégio. Impossível não recordar o peixe divinizado de várias culturas e
épocas (elamita, bramânica, budista, babilônica) e que, por fim, tornou-se
símbolo e emblema do cristianismo.
Talvez seja um resquício do culto
o deus sumério Oannes, corpo de peixe e cabeça e pés humanos, reminiscência de
outro deus sumério Abgallu, divindade civilizadora enviada por Ea. Adorado em
muitas cidades, sua iconografia pode ter inspirado o pitoresco conto bíblico do
profeta Jonas engolido e depois regurgitado por um grande “peixe”. Em Nínive,
cidade assíria para onde Jonas teria sido enviado por Deus, o deus Dagon
pontificava. Dag, em hebraico, é
peixe. Serviu, certamente, de inspiração para o episódio mitológico grego no
qual Apolo, metamorfoseado em delfim, transmite ensinamentos aos homens. E
Jonas (Yonah em hebraico, Joannes em grego) parece ser uma versão tardia
do mito civilizador de Oannes reaproveitado em uma história exemplar.
Um arquétipo tão poderoso quanto
o do peixe mágico, em mais uma história de recompensa e punição, fatalmente
seria levado ao prelo por um autor de cordel. E a tarefa coube a um poeta que
tem nome de pescador, Pedro, e sobrenome de caçador, Monteiro, que foi buscar o
enredo na versão coligida por Nair Lacerda, no livro Maravilhas do conto popular.
Marco Haurélio
Pedro Monteiro, é cordelista piauiense radicado em São Paulo, ativista do movimento cultural e
social.
Obra publicada pela Editora Tupynanquim, com diagramação, capa e Ilustração, de Klévisson Viana.
Abaixo, as estrofes que abrem o folheto:
Se avareza é um
pecado,
Ganância é muito
pior.
Sorte de quem
nunca esquece
De olhar ao seu
redor,
Apreciando a
beleza,
Que nutre a
delicadeza
E faz um mundo
melhor!
Tem gente que na
pobreza
Até lhe estende a
mão,
Mas se lhes derem
poderes
Endurece o
coração,
Cobiçando o
impossível,
De jeito
irreconhecível
Na pratica da
opressão.
A narrativa que
segue
Faz um ligeiro
recorte,
De quem, com muita
arrogância,
Dedo em riste e
braço forte,
Viu seu império
ruir
E em águas fundas sumir
Sua reserva de
sorte.
Um pobre casal de idosos
Que habitava uma ilha,
Dividia uma cabana
Num exemplo de
partilha;
Até surgir
alvoroço,
De a mulher pôr o
pescoço
Na sua própria
armadilha.
Era a ilha de
Buián,
Rússia, país
fascinante,
Com a cabana fincada
Na floresta verdejante,
Pela vista parecia,
Ela por dentro seria
Um espaço aconchegante.
(...)
Um dia de
manhãzinha
O velho estava a
pescar,
Sentiu um repuxo
na rede
Seguido de um
murmurar:
— Vovô, não faças
maldade,
Tenhas de mim
piedade,
E devolvas-me ao
mar.
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