O TRIUNFO DO POETA NO REINO DO CAFUNDÓ
Pedro Monteiro é um danado. Depois de visitar o universo dos heróis picarescos com Chicó, o Menino das Cem Mentiras e João Grilo, um Presepeiro no Palácio, Pedro se volta, agora, para cenários e personagens que fazem lembrar as Mil e Uma Noites. Mas não nos enganemos: O Triunfo do Poeta no Reino do Cafundó – lançado recentemente pela Luzeiro – integra o mesmo rol dos anteriores, embora, aqui, o burlesco não se revele de imediato e, mesmo no final, só seja percebido por olhares mais perspicazes. As estrofes do introito demonstram que a literatura é a soma do talento individual à capacidade de garimpar no inconsciente coletivo:
Certa vez imaginando
A nossa ancestralidade,
Joguei luz no pensamento,
E busquei na oralidade
Histórias que se perderam
No vão da modernidade.
Peguei caneta e papel,
Remexi nos meus lembrados,
Invoquei sabedoria
Dos nossos antepassados,
Lembrei-me da minha avó
Fazendo seus proseados.
Ela falava que um reino
Chamado de Cafundó
Tinha um monarca viúvo
De nome Halabadjó,
Que dizia descender
Do patriarca Jacó.
Este Rei tinha uma filha
Pronta para se casar.
Por ela ser unigênita,
Era preciso arranjar
Um pretendente que fosse
Apto para governar.
Maristela era o seu nome
Uma formosa donzela,
O Rei invocou a Vênus
Para ser tutora dela.
Nos encantos, esta deusa
Foi generosa com ela.
Sua feição parecia
O brilho celestial,
Um primor de formosura,
Uma arte escultural,
Como o fulgor da aurora
No rebento matinal.
Foi assim que certo dia
Halabadjó publicou
Um edital informando
Que sua corte aprovou
E aquela sucessão
Ele assim normatizou.
A regra daquele edito
Foi por um sábio proposta:
Seria feito a disputa
Entre pergunta e resposta,
Somente o sábio dos sábios
Venceria aquela aposta.
(...)
Aparecerá, depois, outro rei cruel, de nome Nagib, que mudará as regras do jogo e instituirá a pena de morte para quem não responder às suas ardilosas perguntas:
Este Rei era Nagib,
Homem de muita ruindade.
Para com o Halabadjó
Agia sem lealdade
Pra transformar Cafundó
Num império de maldade.
Um poeta, de nome Valdemar, tentará interromper a cadeia de maldades impostas pelo tirano. Sua chegada ao reino e o encontro com a princesa Maristela é um interlúdio romântico, necessário à identificação do protagonista:
Ela, quando viu o moço,
Ficou impressionada,
Sua beleza era tanta
Podendo ser comparada
Ao brilho do deus Apolo
Sobre uma flor encantada.
Não é novo na literatura de cordel o motivo das perguntas e respostas. Figura no grande clássico História da Donzela Teodora, de Leandro Gomes de Barros, e nas Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima. Câmara Cascudo recolheu o conto As Perguntas de D. Lobo, reproduzido no Contos Tradicionais do Brasil, em que o personagem-título é derrotado por um moço que lhe faz a seguinte pergunta: “Quem é que nasceu de uma Virgem, batizou-se num rio e morreu numa cruz?”. D. Lobo, que era o Diabo sob disfarce, sem poder pronunciar o sagrado nome de Jesus, acaba derrotado. O rei Nagib da fabulação de Pedro, encarnando o mal absoluto, é uma caricatura do Diabo dos contos de adivinhação.
Saudamos, assim, mais um triunfo do poeta Pedro Monteiro que a cada novo título enriquece mais o cordel, gênero que ele adotou como profissão de fé e ao qual tem prestado valorosos serviços.
Comentários
Agora vou perguntar
Por isso, tome cuidado
Para não titubear,"
No Reino do Cafundó
Cordel que comprei um só
Quando vais autografar?
Desculpe o erro do comentário anterior devidamente retirado por mim.
Um grande abraço.
Com muita satisfação,
É só marcarmos o dia,
Eu faço a dedicação,
E assim, marco o meu traço,
E lhe darei um abraço
Do fundo do coração.
E estou a seu dispor,
Sou militante da paz
Com muita crença e fervor,
Primo pela amizade
Que alimenta o amor.
assim como você e menos da dor
Vejo com clareza que elas vos ama
com seu rimático esplendor
Que belo poeta és
e que amado seja teu rico
saber inovador
Pedro bom
Monteiro poético
sem subjetividade
poeta sério
Com sua poesia
estampada na eternidade