FRANCISCO: O MENINO DAS CEM MENTIRAS
Era uma vez, um matuto de nome Zé Conrado que morava com sua mulher Filó e seus sete filhos: Pedro, Raimundo, Maria, Antônio, Bento, Jacó e o caçula Francisco, também chamado de Chicó. Viviam da pequena criação de animais e de lavoura, em terras do senhor Nicanor, um poderoso coronel daquela região. Mas num ano de forte estiagem, com os negócios indo de mal a pior, o Coronel entrou em forte depressão. Buscando descontração para amenizar suas angústias, culpas e remorsos por tantas maldades praticadas, resolveu, então, pagar para quem lhe contasse mentiras, como forma de distrair-se. O matuto Zé Conrado, por sua vez, afirmou: — Eu não vou até o Coronel, mas se ele vier a mim, garanto contar-lhe até cem mentiras e ele nem precisa pagar por isso!
O
Coronel soube da história e, depressa, saiu com doze capangas para a
casa do matuto e, antes, fez um juramento: Se ele não cumprir o
prometido, arranco-lhe o couro a chicotadas!
Quando avistou o Coronel e seus jagunços, o matuto tratou de fugir com sua prole. Porém Francisco, o Chicó, insistiu em resolver a questão frente a frente com o Coronel.
Quando avistou o Coronel e seus jagunços, o matuto tratou de fugir com sua prole. Porém Francisco, o Chicó, insistiu em resolver a questão frente a frente com o Coronel.
Zé
Conrado, mesmo temendo crueldade com seu caçula, deu no pé e o
Coronel chegou, encontrou o menino e foi logo lhe dizendo:
—
Cadê
o amaldiçoado do teu pai?
— Senhor, pode se abancar que lhe conto tudo! — Disse-lhe o destemido menino, para depois destrinchar o causo — Olhe seu Coronel, meu pai tem uma grande criação de galinha poedeira, são 365, só as carijós. Cada uma põe sete ovos por dia. Todo santo dia ao amanhecer ele conta os ovos, um a um. Até que dia desses, quando fez a contagem, deu por falta de um. Ele enveredou mata adentro, caçando quem fez aquela safadeza; andou, andou, andou e encontrou uma enorme serpente com o ovo na boca. Foi então que reagiu à ofensa, apontou-lhe a espingarda, mas o tiro não foi certeiro. A cobra lhe avançou e ele se defendeu usando a espingarda como vara, mas a cobra era muito brava e foi um reboliço danado, seu Coronel! Quando ele já estava quase vencido, a cobra derrubou o ovo no chão e daí veio a maior surpresa! O ovo se partiu ao meio e dele saiu um enxerido macaquinho. O macaquinho não deu moleza não, seu Coronel, pôs logo fim à peleja dando um nó na tal cobra!
— Senhor, pode se abancar que lhe conto tudo! — Disse-lhe o destemido menino, para depois destrinchar o causo — Olhe seu Coronel, meu pai tem uma grande criação de galinha poedeira, são 365, só as carijós. Cada uma põe sete ovos por dia. Todo santo dia ao amanhecer ele conta os ovos, um a um. Até que dia desses, quando fez a contagem, deu por falta de um. Ele enveredou mata adentro, caçando quem fez aquela safadeza; andou, andou, andou e encontrou uma enorme serpente com o ovo na boca. Foi então que reagiu à ofensa, apontou-lhe a espingarda, mas o tiro não foi certeiro. A cobra lhe avançou e ele se defendeu usando a espingarda como vara, mas a cobra era muito brava e foi um reboliço danado, seu Coronel! Quando ele já estava quase vencido, a cobra derrubou o ovo no chão e daí veio a maior surpresa! O ovo se partiu ao meio e dele saiu um enxerido macaquinho. O macaquinho não deu moleza não, seu Coronel, pôs logo fim à peleja dando um nó na tal cobra!
E
meu pai, por toda essa sorte, montou uma venda de ovos e botou o
macaquinho pra tomar de conta. O danado foi crescendo, crescendo,
crescendo, mas não parava com as macaquices, mesmo já adulto, eram
caretas e mais caretas. Com isso, espantou toda a freguesia. Aí, o
velho ficou muito avexado, fez tudo que foi tipo de remédio para
conter as moganguices
do bicho. Acreditando ser problema de azia, foi consultar um velho
curandeiro, que logo sentenciou: — Isso é prisão de ventre, é só
ele dar uns bons espirros e soltar o que está prendendo! E indicou
pimenta do reino, mas não explicou de que jeito; meu pai fez um
preparado com
a tal pimenta e fumo
torrado e moído, uma espécie de rapé; vixe Maria, seu Coronel, o
bicho fez foi piorar, cada espirro um pum com um
barulho
de lascar! O gato saio latindo e o cachorro miando, até a nossa
porca velha foi logo se escapulindo. Só mesmo as galinhas pareciam
nada sentir.
O
jeito foi meu pai dar outro emprego para o bicho. Agora, como
cuidador do galinheiro; o que também não deu certo, pois as
sirigaitas galinhas, agora, estão desprezando o galo e só querem
saber é de arrastar asas para o valente macaco.
Seu
Coronel, oh bichinho presepeiro! Anda escanchado no galo, por quase o
dia inteiro e quando dá meia noite é quem canta no poleiro!
O
certo, seu Coronel, é que meu pai, nesse instante, está no mato
caçando uma macaca que bote ovos!...”.
O Coronel, ouvindo todo esse balaio de lorotas, ficou muito satisfeito, deu animais e terras ao menino, por conseguinte, paz para toda a família e ainda o elogiou dizendo: — Você, hem! Pequenino, mas danado de mentiroso!
O Coronel, ouvindo todo esse balaio de lorotas, ficou muito satisfeito, deu animais e terras ao menino, por conseguinte, paz para toda a família e ainda o elogiou dizendo: — Você, hem! Pequenino, mas danado de mentiroso!
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