O CORRETIVO
Certa
vez, nas minhas andanças mata adentro pelas bandas da floresta azul,
nas cercanias do rio Jenipapo, município de Campo Maior, no estado
do Piauí, eis que me deparei com uma intrigante cena. Veja você!
Quando
caminhava dentro de um igarapé que parecia há tempos não ver água,
ouvi ruídos encima de um lajedo e olhando o que era, avistei uma
grande macacada. Isso mesmo, era um grupo de uns vinte macacos,
aproximadamente. Faziam uma algazarra danada e naquela folia toda,
eles nem perceberam a minha presença. Fiquei ali olhando, avaliando
e só então pude entender que se tratava de um trabalho coletivizado
quebrando coquinhos. Tinha um que erguia uma pedra de mais ou menos
dois quilos, sacudia sobre o coquinho e dava um pulo, enquanto os
outros recolhiam os fragmentos dos bagos e faziam um montinho,
supostamente, para posterior divisão. Só quando os assustei, dando
alguns passos à frente, foi que fugiram em disparada, com exceção
de um, o de rosto amuado que estava no alto de uma grande árvore.
Este foi descendo, descendo, descendo e me encarou como quem quisesse
dizer algo; talvez até fosse lamentando eu não poder compreendê-lo.
Fiquei
ali por mais
de um
minuto, parado, contemplando a forma estranha com que aquele bicho me
examinava.
Depois
segui o meu destino,
enveredando por dentro da mata, dando continuidade às minhas
descobertas, e após andar alguns minutos, escutei grande reboliço
nos arvoredos seguido de uma barulheira que soava como um misto
peditório e murmurações. Ao me aproximar cheio de curiosidade,
para minha surpresa, reconheci aquele mesmo macaco que tinha me
encarado, agora estava ele ali, cercado e sendo açoitado pelos
demais do bando.
Confesso
que fiquei estarrecido, tentando entender o porquê daquilo tudo,
pois sequer tinha eu mexido nos seus coquinhos!
Talvez
fosse mesmo um corretivo pela desatenção. Sei lá!
O que posso afirmar é que a coisa foi feia.
O que posso afirmar é que a coisa foi feia.
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